domingo, 6 de junho de 2010

SAMANTHA

- Soraia! - Chamo. Grito. - Soraia fogo! Vem aqui imediatamente! - Ordeno imperativamente.
O meu quarto está um horror. A roupa espalhada pelo chão, o caixote dos papeis derrubado, com o seu conteúdo à volta, as coisas da secretária no chão. E o pior de tudo... É que não fui eu que fiz isto.
Ela aparece.
O cabelo negro, liso, cumprido, completamente desgrenhado. Os olhos verdes e brilhantes tão amáveis (e mentirosos) que olham para mim alegres, contentes. De toalha à volta do corpo, morena, anta e magra.
O meu pai está no trabalho, a minha mãe foi ao jardim com a minha tia e com o João, e eu não posso ir ter um bocado com o Tiago que acontece uma coisa destas. Às vezes penso, se não se enganaram e sou eu a irmã mais velha.
- Não podias ir para o teu quarto? - Pergunto arrancando-lhe a vassoura que ela escondera atrás das costas. - Tinha mesmo que ser no meu?
- Claro que podia. - Responde-me rindo, com a maior das calmas e sinceridades. E eu pergunto-me "O que fiz eu a Deus para ter uma irmã assim?".
Olho-a nos olhos e ela devolve-me o olhar. Sorri. Falsa ou verdadeiramente, já não me interessa. A minha relação com ela, já está, há muito, resumida a "Passa-me o pão por favor" há hora do jantar e a estas discussões sem nexo, tudo porque ela tenta encarecidamente, fazer-me a vida negra.
- Desculpa lá maninha. - Diz sorrindo, e vai-se embora.
Que realidade!
Que vida"
Que estupidez!
Se não fosse o Tiago...
O que seria de mim?
E riu-me.
Por um momento.
Dou uma gargalhada e penso.
"Realmente podia ter sido eu a desarrumar o quarto" E pegando na vassoura, ignoro todos os vestigios que me possam incriminar numa cena demasiado imaginativa para me fazer chorar.

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